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Cuba nos tempos de Fidel

Impressões de Havana

Por: Jalmo Fornari
16/07/2024 às 15h00
Cuba nos tempos de Fidel

As famílias dos proletários cubanos, em geral, vivem em velhas casas dos tempos da opulência do regime de Batista. Na cidade de Havana existem poucos prédios modernos construídos após a Revolução Comunista. Nas proximidades da cidade, há alguns enormes conjuntos habitacionais feitos dentro dos frios e feios padrões soviéticos. Conjuntos de apartamentos singelos, quadrados e monótonos, que nos lembram, em Havana, a proposta de erradicação de favelas apresentada há anos pelo ex-governador paulista Paulo Maluf. Tive a oportunidade de conhecer o conjunto “Pastorera”, onde visitei uma artista plástica aposentada. Os apartamentos são pequenos e funcionais. A cozinha tem aparelhos antiquados e pesados, como as velhas pias de cimento-mármore, e o banheiro tem louças brancas sem tampa nos vasos.

Havana, ou Habana para os cubanos, capital de Cuba, na verdade não é apenas uma cidade com este nome nem uma região metropolitana. É conhecida como “Ciudad de la Habana”, um conjunto de cinco cidades unidas, situadas na margem oeste do Porto, a partir do extremo onde fica “El faro de los Reyes”. Havana Velha (Habana Vieja) é um conglomerado de prédios antigos, alguns com mais de 300 anos, com becos e ruelas estreitas de um tempo em que por lá só circulavam carruagens e pajens levando senhoras em liteiras. A rodovia junto à orla tem muitos prédios deteriorados pelo tempo, alguns dos quais já ruíram por falta de conservação, mas mesmo assim é magnífica. Hoje, devido ao fato de aquela zona da cidade ter sido tombada como patrimônio histórico da humanidade por uma resolução da UNESCO, dezenas de prédios estão sendo reconstruídos ou reformados com recursos internacionais, principalmente oriundos da Espanha.

Na cidade “Plaza de La Revolución”, uma das partes de “La Habana”, local onde está a sede do Partido Comunista e os escritórios onde Fidel despacha diariamente, há um bairro chamado Vedado. Neste bairro fica a clínica de tratamento de “retinite pigmentosa”, Camilo Cienfuegos, e foi lá que permanecemos hospedados durante os 15 dias em que ficamos no país. Vedado tem um patrimônio arquitetônico impressionante. Na parte limítrofe ao mar existe um muro que separa a avenida do oceano, já que, por ter o solo com formação de corais, neste local não existe areia nem praia. O muro, construído para conter a fúria das águas, bem como a avenida que o margeia, recebe o nome de Malecón. Nas suas proximidades existem milhares de prédios que antigamente eram providos de muito luxo e requinte e que hoje, sem manutenção alguma, servem de moradias para os operários cubanos. Muitos destes antigos palacetes burgueses chegam a abrigar 4 ou 5 famílias. É mais um paradoxo socialista quando se veem essas construções monumentais com varais em suas sacadas e com os rebocos se desmanchando devido à ação do tempo.

Filas socialistas – El último

Em Cuba, as filas fazem parte do cotidiano das pessoas, assim como em muitos lugares do terceiro mundo. O curioso é que, ao contrário do que ocorre no Brasil, os cubanos aceitam as filas com naturalidade. As maiores filas acontecem no final da tarde nos terminais de ônibus e de "Camello", onde centenas de cubanos se aglomeram aguardando a sua vez de entrar no coletivo.

Um fato distingue o comportamento do brasileiro e do cubano que enfrenta uma fila. Aqui no Brasil, é comum ouvir críticas em relação ao serviço que está sendo servido, enquanto em Cuba, como não há concorrência nos serviços, o cidadão encara a fila como algo intrínseco ao seu dia-a-dia e reage com surpreendente educação ao fato. Ao chegar a um local onde deve se colocar na fila em Havana, você diz em voz alta "El último". Mesmo sem a disciplina de fila, alguém em algum ponto responderá "Jo" (Eu), e então você se posiciona no conglomerado de pessoas até que a pergunta seja feita novamente por alguém que chega, e você passa a posição de último da fila para ele. É estranho, mas funciona perfeitamente.

Há filas constantes para tomar sorvete na “Copélia” na Praça Havana Livre, filas no transporte, filas nos mercados e até filas em frente ao balcão de atendimento nas lojas. Para examinar um produto que está na prateleira, você pede pelo último e espera sua vez, as vezes por cerca de 20 ou 30 minutos. Como Cuba é comunista e não tem concorrência, ninguém tem pressa de atender o cliente. Em uma loja em que entrei para ver um frasco do perfume Alicia Alonso, fiquei 23 minutos na fila aguardando atendimento. Como a espera estava demorando demais, como bom brasileiro me pus a reclamar baixinho. Uma senhora que estava na minha frente se voltou e me pediu calma. "Senhor, deixa a atendente dar atenção à companheira!". A atendente estava conversando com uma cliente amiga sua e há mais de 5 minutos mostrava as cores dos esmaltes de unha disponíveis na loja.

Cinema Norte Americano

Embora a produção cinematográfica de Cuba seja incipiente e sem grandes destaques, existem muitos cinemas em Havana disseminando a cultura do imperialismo americano, tão execrada pelas autoridades locais. Eu assisti pelo menos duas sessões de cinema e, ambas as vezes, a casa estava lotada. Os filmes são definidos na fachada como "películas norte-americanas" e atraem centenas de jovens e velhinhos aposentados nas tardes dos dias de semana. Não existem trailers, e a fita não passa de um sistema precário, de pouca definição, em que são projetadas diretamente fitas de vídeo K-7 na tela grande da sala, possivelmente contrabandeadas através do México, já que os produtores americanos não exportam material para Cuba.

O preço varia de acordo com a cara ou, melhor, a origem do freguês. O cubano paga 2 pesos para assistir ao filme, e o turista, 1 dólar. Ninguém pede documento, a seleção é feita pelo sotaque, pela forma de vestir. Os filmes são novos, alguns sequer passam na TV a cabo aqui do Brasil. Por exemplo, há 20 dias assisti em Habana Livre "El molino rojo" com Nicole Kindmen, filme que concorre ao Oscar neste ano.

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Jalmo Fornari
Jalmo Fornari
Jalmo Fornari é diretor-proprietário do Sistema Província de Comunicação. Jornalista já atuou nos principais veículo de comunicação do Rio Grande do Sul, como as rádios Gaúcha e Guaíba. Também é advogado com pós graduação em direito previdenciário. Como político foi vereador em Tenente Portela por diversos mandatos, tendo ocupado por diversos momentos o cargo de prefeito. Nesta coluna você acompanha crônicas, textos e memórias.
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