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Quatro nomes, uma trajetória

Uma jornada profissional marcada por quatro homens notáveis

Por: Jalmo Fornari
05/06/2025 às 19h00
Quatro nomes, uma trajetória

Quatro Nomes, Uma Trajetória

Minha jornada no jornalismo foi marcada por quatro homens notáveis, figuras icônicas da comunicação brasileira que moldaram minha formação profissional e minha visão de mundo. Cada um, à sua maneira, deixou uma marca indelével em minha trajetória.

Norberto Schwantes: O Semeador de Ideias

O primeiro foi um pioneiro, visionário e prático, que me deu uma oportunidade ainda na adolescência. Sonhava em transformar o rádio em uma ferramenta de desenvolvimento regional — e não apenas sonhou: realizou. Nos anos 1970, quando a televisão ainda engatinhava no interior do Brasil, o rádio reinava soberano. Em Tenente Portela, no Rio Grande do Sul, alimentávamos nossa curiosidade com informações que vinham de longe — da Guaíba de Porto Alegre, da Tupi do Rio de Janeiro, da Bandeirantes de São Paulo. As notícias regionais chegavam pelas ondas da Progresso de Ijuí e da Difusora de Três Passos.

Nesse cenário, nasceu a Rádio Municipal, sob a liderança do pastor evangélico Norberto Schwantes. Ele via no rádio mais do que um meio de comunicação: um instrumento de transformação social. E conseguiu. Sua emissora irradiava ideias e oportunidades que motivaram centenas de famílias a migrar para o Centro-Oeste brasileiro, onde fundaram agrovilas que se tornariam prósperas cidades, como Canarana, Água Boa, Terra Nova e Barra do Garças. Norberto foi um semeador. Faleceu jovem, mas não sem antes deixar sua marca na história: como deputado federal, assinou a Constituição de 1988 diretamente do leito de morte. Tenho imenso orgulho de ter iniciado minha trajetória sob a influência desse verdadeiro desbravador.

Assis Chateaubriand: O Legado dos Diários Associados

Do interior, parti para o universo criado por um nome lendário da comunicação latino-americana: Assis Chateaubriand. Embora tenha falecido antes que eu pudesse conhecê-lo, sua sombra ainda pairava sobre os Diários Associados, conglomerado do qual o Diário de Notícias fazia parte. Foi lá que, ainda calouro na faculdade de Jornalismo, consegui meu primeiro emprego como repórter em Porto Alegre.

Comecei cobrindo esportes no Beira-Rio e no Olímpico, numa redação já distante de seus tempos áureos, mas ainda vibrante. Curiosamente, o Diário foi também o jornal que ajudou a alfabetizar minha infância — eu era incumbido de comprá-lo toda vez que meu pai chegava de viagem. O destino parecia fechar um ciclo: o mesmo veículo que me ensinou a ler me ensinaria a escrever.

Maurício Sirotsky Sobrinho: A Paixão da Gaúcha

Do legado de Chateaubriand, segui para outra experiência transformadora na Rádio Gaúcha, a joia da coroa da Rede Brasil Sul de Comunicação, sob o comando de Maurício Sirotsky Sobrinho. Inquieto desde jovem, ele havia começado com uma “rádio de poste” em Passo Fundo, usando alto-falantes para transmitir música e recados à população. Depois, tornou-se sócio da Rádio Gaúcha, fundou o jornal Zero Hora a partir da extinta Última Hora e consolidou um dos maiores grupos de mídia do país.

Fiquei mais de quatro anos na Gaúcha. Fiz de tudo: matérias econômicas, coberturas políticas no Palácio Piratini e na Assembleia Legislativa, reportagens de verão no litoral e coberturas nacionais, como a da Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Também estive presente em momentos históricos, como a visita do Papa João Paulo II a Porto Alegre em 1980.

Sirotsky era uma figura respeitada, mas pouco acessível no dia a dia. O que mais me marcou foi a justificativa de minha contratação, revelada por Ruy Carlos Ostermann, então diretor da emissora. Ele disse:
“O doutor Maurício pediu que contratássemos os dois: o Giacomo, pela experiência; e o Jalmo, pela paixão com que faz suas reportagens.”

Mais tarde, tive o privilégio de entrevistá-lo por telefone, em um momento simbólico: a morte de Elis Regina, em 1982. Maurício resumiu o sentimento do país com uma frase que nunca esqueci:
“O Brasil chora Elis como a França chorou Edith Piaf.”

Breno Caldas: A Lição de Integridade

A última grande casa jornalística que me acolheu foi a Caldas Júnior, sob o comando de Breno Caldas — uma figura discreta, mas profundamente respeitada. O grupo era responsável pela Rádio Guaíba, pelo Correio do Povo e por outras publicações e canais de TV. Iniciei ali como repórter de geral e logo fui escalado para coberturas de verão no litoral, tarefa que já conhecia bem.

Em 1985, recebi uma convocação que mudaria minha vida profissional: cobrir o drama do presidente eleito Tancredo Neves, internado no InCor, em São Paulo. Foram dias intensos, de tensão, incerteza e cobertura quase ininterrupta. A experiência me marcou tanto que se transformou em um livro.

Com o Dr. Breno Caldas, aprendi uma das maiores lições de minha carreira jornalística. Durante uma campanha política, denunciei uma irregularidade de um grupo de apoio ao candidato Alceu Colares, que disputava a prefeitura de Porto Alegre. A matéria foi enviada ao correspondente Renner, e isso bastou para que Carlos Araújo, então companheiro de Dilma Rousseff, enviasse uma carta ao Dr. Breno pedindo minha demissão, acusando-me de ser um “resquício do lacerdismo” na imprensa gaúcha.

Dr. Breno, que nunca havia falado comigo diretamente, mas certamente me ouvia nas minhas muitas reportagens diárias na Rádio Guaíba, chamou-me ao seu escritório. Em um ambiente imponente, parabenizou-me pelo trabalho e informou-me sobre a carta. De forma tranquila, perguntou:
“Tudo o que foi dito está comprovado e tem fonte?”
Confirmei. Ele apenas disse:
“Então, fique tranquilo. Esses políticos usam qualquer artifício para defender suas posições.”

Quando eu já estava na porta, Dr. Breno me chamou e entregou-me uma folha de papel com o envelope.
“Guarde para si, para que aprenda como agem esses políticos!”, disse.

Até hoje, conservo aquela carta, que levantava denúncias falsas contra mim para desviar o foco da informação publicada. Foi ali que percebi que jornalismo e política nem sempre correm em trilhos separados.

O Retorno às Origens

Recusei um convite para trabalhar na Voz do Brasil, então revitalizada pelos ventos da Nova República, e voltei ao interior, onde tudo começou. Escolhi a família, os velhos amigos e o sonho de empreender por conta própria. Tornei-me diretor da Rádio Municipal — a mesma onde comecei aos 14 anos. Meses depois, fundei um jornal semanal e busquei a concessão de uma rádio FM, uma iniciativa pioneira na região.

E depois? Bem, depois começou uma nova história, com os mesmos sonhos que me levaram ao jornalismo.

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Jalmo Fornari
Jalmo Fornari
Jalmo Fornari é diretor-proprietário do Sistema Província de Comunicação. Jornalista já atuou nos principais veículo de comunicação do Rio Grande do Sul, como as rádios Gaúcha e Guaíba. Também é advogado com pós graduação em direito previdenciário. Como político foi vereador em Tenente Portela por diversos mandatos, tendo ocupado por diversos momentos o cargo de prefeito. Nesta coluna você acompanha crônicas, textos e memórias.
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