É melhor omitir o nome do protagonista desta história, pois seus descendentes ainda estão por aí, a toda prosa. Mas quem viveu naqueles tempos jura que o fato aconteceu — e é verdadeiro.
Era época de eleição, e o nosso herói se candidatou a vereador. Acreditando ter prestígio em pelo menos um dos distritos, julgava angariar simpatia suficiente para abocanhar os votos necessários e garantir uma vaga no Legislativo — mais por vaidade e paixão pela política do que por retorno financeiro, já que o município era pobre e, naquela época, vereador não ganhava um pila sequer.
Em uma de suas muitas reuniões improvisadas, conseguiu reunir uns 30 ou 40 matutos ao seu redor. Passados cerca de 20 minutos de um discurso entusiasmado, foi percebendo que o público começava a minguar. Um a um, os ouvintes foram se retirando, até que restou apenas um casal.
Foi então que o candidato resolveu elogiar a permanência dos dois:
— Vocês, pelo que parece, são os únicos que estão entendendo minha mensagem. Isso é muito evidente, porque têm jeito de serem líderes desta localidade, parecem muito inteligentes... Ao contrário do resto do povinho daqui, que praticamente me deixou falando sozinho.
O homem coçou a cabeça, olhou para a mulher e respondeu com a calma de quem já viu muito discurso e pouca ação: