No início dos anos 70, a inseminação artificial ainda era uma novidade recém-implantada pela Cotrijuí, que, além de apoiar a produção de grãos, também se esforçava para melhorar geneticamente o plantel bovino da região.
Nilson — vamos chamá-lo assim — era um amigo nosso que, na época, trabalhava como inseminador na cooperativa. Sempre trajando um jaleco branco durante o expediente, era tratado como veterinário pelos humildes agricultores, que ficavam pasmos diante da técnica e da modernidade que a inseminação artificial aparentava ter naqueles tempos.
Com um velho Jeep Willys, Nilson percorria as esburacadas estradas do interior. Certo dia, foi chamado para inseminar uma vaca lá pras bandas de Daltro Filho, nas barrancas do rio Turvo. Ao chegar, foi recebido com cerimônia pela viúva dona da propriedade, que o levou até a estrebaria. Com simplicidade e certa reverência, a mulher explicou os preparativos feitos para a chegada do “doutor”:
— Tive o trabalho de lavar a estrebaria, mandar as meninas passearem na casa da comadre e, pra facilitar, até finquei dois prego aí na parede, a modo do senhor pendurar as suas roupas.
Quando já se virava para sair, deu meia-volta e, meio sem jeito, completou:
— Fique à vontade, doutor… Hã… qualquer coisa, é só chamar.