De alguma forma, minha vida sempre esteve ligada ao rádio, mesmo antes de conhecer uma emissora. Na primeira infância, essa conexão se manifestava na admiração e no encantamento de ver meu pai chegando de viagem e ligando o belo rádio Philips, que ficava em uma estante feita especialmente para ele, num canto da sala. O rádio ainda funcionava com válvulas, daqueles que demoravam minutos para dar som, começando baixinho até atingir o volume esperado.
Minha curiosidade só foi sanada quando, um dia, o aparelho apresentou um problema e o técnico, junto com meu pai, abriu aquela caixa. Em vez dos homenzinhos minúsculos e falantes que minha imaginação criara, havia fios e tubos de vidro. Aos poucos, fui entendendo a lógica do rádio: era a antena, me explicaram, que captava as ondas e as transformava em sons.
Quando eu tinha dez anos, aos domingos pela manhã, os alunos mais destacados às vezes participavam de um programa de uma emissora da cidade vizinha, transmitido diretamente de um bar e sorveteria na Avenida Santa Rosa. Foi aí que descobrimos a maravilha do microfone.
Dois ou três anos depois, surgiu a notícia de que nossa cidade teria uma emissora própria. O pastor Showantes havia construído um prédio e estava prestes a inaugurar a Rádio Municipal. Fomos à abertura e acompanhávamos atentamente a programação, conduzida por locutores que fizeram história na região, como Aldair, Lavarda, Seno e tantos outros.
Com o rádio na cabeça e no sangue, meu sonho era trabalhar na “rádia”. Como ainda era muito jovem, aos 13 anos consegui um emprego em uma oficina que consertava rádios. O Evaldo me ensinava a trocar válvulas e adaptar rádios à bateria para luz ou pilha. Eu era um aprendiz de técnico até que, um dia, Salamoni, então diretor da Rádio Municipal, conseguiu para mim um emprego na emissora. Fazia de tudo: comprava lanches, montava o Jornal da Terra, até que um dia fui para a central técnica. Como tarefa complementar, escrevia o texto de um programa chamado Vida e Saúde. Aliás, copiava conteúdo da enciclopédia Barsa e das revistas Seleções, o que era totalmente compreensível, já que eu tinha apenas 15 ou 16 anos.
O desejo de conquistar o mundo me levou a Santa Maria para cursar o segundo grau. Passei por algumas rádios, como a Imembuí e a Medianeira, mas era difícil conciliar o colégio, o aflorar da juventude e o trabalho no rádio. Acabei optando pelo teatro.
De Santa Maria, fui para a capital prestar vestibular. Com a desculpa de que queria fazer Arquitetura, acabei me inscrevendo e passando em Comunicação Social na PUC. Mergulhei no meio que tanto sonhava.
Seis meses de faculdade e já era repórter estagiário no Diário de Notícias, o mesmo jornal em que aprendi a ler no início dos anos 60.
Numa quase inacreditável e mirabolante reviravolta, um ano depois fui contratado como repórter da Rádio Gaúcha, com apenas 21 anos. Depois de coberturas e aventuras pela reportagem, fui para a Rádio Guaíba e, então, movido pelo sonho de ter meu próprio veículo de comunicação, voltei à minha cidade. Enquanto lutava por um canal próprio, fui empossado diretor da Rádio Municipal, onde já havia sido contínuo.
Meus relacionamentos profissionais nas grandes emissoras do estado me proporcionaram ótimos contatos, que agilizaram a conquista de um improvável canal de FM para Tenente Portela, no fim dos anos 80.
O nome Província surgiu de uma discussão com a saudosa professora Iara Bendatti na Famecos da PUC. Eu havia feito uma simulação de um jornal fictício chamado Província Kaingang, e ela julgou o trabalho exageradamente audacioso para ser implementado. Agora, eu tinha a oportunidade de transformar a ideia em realidade, tanto no jornal quanto na emissora de rádio — e assim o fiz.
Inauguramos a Província FM em junho de 1989, numa época em que a maioria dos receptores ainda só captava AM. Mas isso foi apenas mais uma razão para encarar o desafio. A emissora, modesta, começou com um transmissor de 250 watts, mas marcou época naqueles anos. Três anos após a inauguração, o sucesso foi tanto que subimos de categoria e quadruplicamos a potência. Em 1995, mais uma ampliação nos levou a 5 kW com três antenas difusoras, conquistando um espaço na classe A do FM.
Desde o primeiro dia de transmissões, assumimos o compromisso com o jornalismo sério e com a verdade, sem nos submetermos a políticos e governantes locais — para isso, já havia uma emissora pública no município. Para conquistar o público, elencamos dois focos principais: para as camadas mais desfavorecidas, realizamos campanhas de auxílio e apoio comunitário, fortalecendo a solidariedade com os necessitados ou esquecidos pelo poder público. Entre os jovens, promovemos um festival regional de rock, o Encontro de Bandas, idealizado por André Sturmer, que por uma década foi um dos eventos mais simbólicos da cidade. Também realizamos shows regionais e nacionais, trazendo artistas que, normalmente, só se apresentariam em cidades pequenas em eventos como feiras regionais.
Uma das marcas dessa trajetória foi o Natal da Criança Carente. Por mais de 30 anos, usamos o poder do rádio para sensibilizar as pessoas a serem solidárias com crianças pobres que sonhavam com um presente que seus pais não podiam proporcionar. Foi um sucesso, com total apoio da comunidade local e regional.
Ao longo dessa história, sempre priorizamos abrir espaço para profissionais comprometidos com as metas da nossa empresa. Corro o risco de ser injusto ao nomear apenas alguns, por isso generalizo este reconhecimento, sem medo de errar.
Esta é a síntese da história de um homem idealista, que amou o rádio e a comunicação, fez de sua empresa parte de sua família e escreveu um capítulo da história de sua cidade e da sua região.