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Nos tempos do “televizinho”

Uma homenagem ao Evaldo

Por: Jalmo Fornari
18/03/2025 às 15h44
Nos tempos do “televizinho”

Nos tempos da “Televizinho”

Houve um tempo em que o rádio era o grande elo com o mundo. O imediatismo das ondas médias, curtas ou tropicais levava às casas mais distantes notícias, novelas e músicas. Era a era dourada do rádio, quando emissoras como a Rádio Tupi do Rio, Rádio Guaíba, Farroupilha e Globo do Rio disputavam espaço com a TV, que surgia timidamente. Inicialmente, o alto custo dos aparelhos limitava sua popularização. Depois, veio a barreira da recepção, pois o sinal de transmissão atingia apenas os grandes centros urbanos.

Assim, por muito tempo, nas pequenas cidades, o “chic” era o rádio. As enormes vitrolas eram símbolos visíveis de status, orgulhosamente posicionadas nos cantos das salas de visita. Nesse universo sonoro, o técnico de rádio era uma figura respeitada, pois seu conhecimento permitia restabelecer o contato com o resto do país e garantir a diversão. Reparar os antigos super-heteródinos (à válvula) e os primeiros transistorizados era um serviço de alta tecnologia naqueles confins do Brasil.

Em Tenente Portela, a situação não era diferente. O sinal de televisão só chegou na década de 1970, e era privilégio de poucos, pouquíssimos mesmo. Para captar as imagens repletas de fantasmas e chuviscos, eram necessárias antenas gigantescas, sustentadas por canos de metal estaiados, que chegavam a 20 ou 30 metros de altura. Mas o surgimento da TV também expandiu a atuação dos técnicos em eletrônica, que precisavam viajar e frequentar cursos para dominar essa nova tecnologia que prometia revolucionar o entretenimento.

O maior problema era o sinal fraco. Nos dias de vento forte ou frio intenso, sempre havia alguém que precisava sair do aconchego da sala para reposicionar a antena. O ritual era sempre o mesmo:

— E aí! Melhorou?!

Do lado de dentro, alguém, postado diante da Telefunken, respondia aos berros:

— NÃO! Mais para a esquerda!

— Já dei uma volta! — retrucava o infeliz lá fora.

— Então volta! Vai acabar arrebentando o fio!

Era um verdadeiro espetáculo sonoro, mas tudo valia para não perder um capítulo da novela Irmãos Coragem.

Para resolver a precariedade do sinal, surgiu uma ideia genial coordenada pelo Armando, dono da loja que vendia televisores. Ele propôs a criação de um TV Clube, reunindo os poucos proprietários de aparelhos para, mediante uma mensalidade, financiar um pequeno repetidor de sinal. O equipamento seria instalado no topo da torre da Igreja Matriz, e o técnico Evaldo ficaria responsável pela manutenção.

Na pequena cidade, durante o dia, o rádio reinava absoluto. Mas à noite, para quem tinha TV, o ponto alto era o Jornal Nacional e a novela das oito. Como havia poucos aparelhos, nasceu naturalmente a rede de “televizinhos”: pessoas que se reuniam na casa de quem possuía televisão para assistir aos programas. Assim, algumas salas ficavam lotadas após o jantar, com 15 ou 20 pessoas, todas unidas pelo único objetivo: acompanhar as aventuras dos Irmãos Coragem e da Índia Potira.

Nos dias de tempo ruim, quando o sinal sumia ou piorava, começava a agonia: ou alguém corria lá fora para realinhar a antena com a torre da igreja, ou ligavam desesperadamente para o Evaldo ou para o Armando. As ligações eram incessantes, ansiosas para que o problema fosse resolvido antes do início da novela.

O técnico, na época jovem e destemido, subia os 45 metros da torre da igreja carregando um aparelho Philco de 14 polegadas nas costas, além de uma mochila repleta de multímetro, soldador e peças de reposição. Era um ofício arriscado, mas de importância reconhecida por toda a cidade.

Uma época de conexões

A TV, além de seu potencial ideológico e informativo, proporcionava lazer e aproximação entre as pessoas. Era o tema principal das conversas nos bares e encontros entre amigos. A chegada da televisão não apenas modernizou os lares, mas também manteve vivas as tradições de convivência e compartilhamento.

Esta é uma singela homenagem a Evaldo Lutz, técnico em rádio e TV, que por muitos anos trabalhou em Tenente Portela e, há 16 anos, reside no município gaúcho de Garibaldi. Seu trabalho foi essencial para manter viva a magia da TV naqueles tempos inesquecíveis.

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Jalmo Fornari
Jalmo Fornari
Jalmo Fornari é diretor-proprietário do Sistema Província de Comunicação. Jornalista já atuou nos principais veículo de comunicação do Rio Grande do Sul, como as rádios Gaúcha e Guaíba. Também é advogado com pós graduação em direito previdenciário. Como político foi vereador em Tenente Portela por diversos mandatos, tendo ocupado por diversos momentos o cargo de prefeito. Nesta coluna você acompanha crônicas, textos e memórias.
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