Por trás...
A Dona Irena, a mesma que, indignada com o baixo nível do palavreado usado em piadas que faziam parte de um show no Campo do Ipiranga, onde havia crianças e adolescentes, expulsou do município o humorista Jacinto, é agora tida como a protagonista da história da semana.
Na década de 1960, em plena campanha eleitoral, enquanto disputava uma vaga de vereadora, foi procurada pela Rádio Difusora para conceder uma entrevista sobre o pleito que se avizinhava. O repórter, com seu gravador a tiracolo e uma prancheta cheia de anotações, perguntou com formalidade:
— Dona Irena, como a senhora avalia o andamento da campanha política?
Com seu português temperado pelo forte sotaque germânico, ela não hesitou em responder:
— Olha, seu moço, "o chente" tem de ter mais "meto" e "cuidato" dos companheiros do que dos "ateversários"...
Curioso e já sentindo que dali sairia uma pérola radiofônica, o repórter insistiu:
— Ora, mas por quê, Dona Irena?
Ela, sem mudar a expressão séria e convicta, explicou:
— Porque os "ateversários" o "chente" já sabe que sempre "fão" falar mal. Mas "alcuns" companheiros... "alissam" o "chente" pela frente e "medem" o pau por trás...
O silêncio que se seguiu foi quebrado por uma gargalhada contida do operador de áudio, que tentava, em vão, manter a compostura. O repórter, atônito, olhou para o gravador, conferindo se a resposta tinha sido devidamente registrada. E, dali em diante, a fala de Dona Irena virou um ditado popular na cidade, repetido sempre que alguém queria alertar sobre as traições inesperadas da política.