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Histórias do Seu Vitório

A curva grande do Rio Uruguai

Por: Jalmo Fornari
20/12/2024 às 16h36
Histórias do Seu Vitório

O seu Vitório, assim como o Coronel Bicaco, foram na nossa região duas daquelas figuras cujas histórias acabaram se confundindo com o folclore e as lendas deste canto do Rio Grande do Sul. Tão inverossímeis eram as suas estórias que, rapidamente, se não de geração em geração, de boca em boca pela tradição oral, foram perdendo algumas das suas características originais. A maior marca do seu Vitório era contar lorotas e acreditar nelas. Mentir ele não mentia, mas admitia que aumentava — e muito.

Hoje vamos contar um dos causos do seu Vitório, um empenhado e sério funcionário público do setor de tributação, mas que se transformava ao descrever suas imaginárias aventuras. Esta é uma delas.

Assim que chegou à região, lá pelo final dos anos 40, o seu compadre Azemildo Moraes, que residia há mais tempo por ali, convidou o seu Vitório para uma pescaria no Rio Uruguai. Fizeram os preparativos, pois, afinal, era uma daquelas pescarias de acampamento, de ficar uns três ou quatro dias nas margens do rio. Assim que foi perguntado se conhecia o Rio Uruguai, o seu Vitório quase levou por ofensa a curiosidade do compadre Moraes:

— Se conheço o Rio Uruguai, compadre? O senhor parece que tá brincando! Eu conheço o Rio Uruguai desde os tempos em que ele era sanga!

Como o compadre Azemildo, para não perder o amigo, fez pouco caso da bravata do seu Vitório, este fez questão de justificar seu longo conhecimento do Rio Uruguai, completando:

— Compadre, pro senhor ter uma ideia do tempo que eu já conheço o Rio Uruguai, vou lhe contar um causo que se passou comigo e com um finado tio lá pelo ano de 27, mais ou menos, se não me falha a memória. Era novembro, disso eu lembro. Nós nos embrenhamos na mata fechada para chegar na barranca do rio. Tão logo limpamos uma pequena clareira na margem, nos botamos a pescar. Armamos acampamento e fizemos uma das maiores pescarias que já se teve notícia por aqui.

O compadre Moraes apenas fazia cara de admirado, concordando surpreso e encantado com o relato meticuloso do Vitório. Temendo não ter transmitido a grandiosidade do evento, o Vitório lançou seu último cartucho, para dar o toque final de veracidade à sua proeza:

— Sabe aquela curva forte do rio que tem pra baixo de Mondaí, quem desce em direção a Itapiranga, que naquele tempo se chamava Porto Novo?

— Sei, claro que sei — respondeu o atento compadre.

— Pois é, foi nós que fizemos. E lhe conto, pro amigo não duvidar.

O Vitório, gesticulando e olhando para o horizonte como se buscasse inspiração, começou a descrição:

— Naqueles dias, tava dando surubim "à riveria", uns bichos com mais de 150 quilos, isso os médios. Nós fizemos uma espera especial pra pegar o maior deles, se por acaso caísse na nossa isca. Arrumamos uma espia de aço, jogamos um “macau” de isca e voltamos pro acampamento. Na manhã seguinte, notamos que o peixe tinha pegado a isca e começamos, então, a trabalheira pra tirar o infeliz da água. Passamos o dia inteiro lutando e nada. No fim da tarde, pegamos emprestada uma junta de boi de um caboclo que morava nas proximidades e, acredite, compadre, nada do peixe. Fomos puxar e nada do bicho sair da água. Na manhã seguinte, veio um trator que trabalhava nos matos derrubando madeira pras balsas. Amarramos ele na espia e, mesmo assim, fumaceava, às vezes patinava, e nada do bicho.

Já estávamos "desacorçoados" de tanta luta, quando o meu tio descobriu por que a gente não conseguia tirar o bicho fora da água.

— Por quê? — indagou, repleto de curiosidade, o atento e incrédulo compadre Moraes.

— Ora, compadre! Tu não acredita, mas era um bicho tão grande, mas tão grande, que, ao invés de arrancá-lo da água, o que de fato conseguimos foi arrastar o Rio Uruguai quase um quarto de milha pro lado...

O compadre Moraes, boquiaberto, tentava encontrar palavras, mas o Vitório finalizou:

— Compadre, até eu acharia que não é verdade, se não fosse a curva que fizemos no rio e que ainda tá lá, confirmando que não tô mentindo.

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Jalmo Fornari
Jalmo Fornari
Jalmo Fornari é diretor-proprietário do Sistema Província de Comunicação. Jornalista já atuou nos principais veículo de comunicação do Rio Grande do Sul, como as rádios Gaúcha e Guaíba. Também é advogado com pós graduação em direito previdenciário. Como político foi vereador em Tenente Portela por diversos mandatos, tendo ocupado por diversos momentos o cargo de prefeito. Nesta coluna você acompanha crônicas, textos e memórias.
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