Um professor que, por vários anos, foi vereador em nossa comarca, tinha métodos muito particulares para fazer suas campanhas e angariar a simpatia das famílias para seus objetivos eleitorais. Lembro que, um dia, em uma viagem à capital, ele, entusiasmado, nos revelou alguns de seus truques infalíveis para conseguir sensibilizar algumas famílias a votarem nele, passo a relatar um deles.
Segundo o mestre de escola rural, nos períodos de campanhas eleitorais, ele, com muita discrição e sem querer ser notado, visitava os cemitérios das comunidades do interior e anotava em um caderninho as datas de falecimento das pessoas importantes do lugar, impressas nas lápides. Registrava primeiro o nome das famílias, depois o do falecido e, por fim, verificava se havia descendentes ainda morando nas redondezas. Com tudo organizado em seu caderninho, ele partia à caça de votos.
Quando chegava ao lar de uma determinada família — previamente selecionada, geralmente pessoas que ele conhecia —, com uma expressão de tristeza que só ele sabia fazer e aparentando muito pesar, respondia assim à quase invariável saudação alegre do dono da casa:
— Olá, como vai? Tudo bem! Que bons ventos o trazem aqui, professor?
Contrariando a expectativa do dono da casa, o professor respondia:
— Boa tarde! Respondendo à sua pergunta, porém hoje não estou muito bem. Estou com uma enorme saudade.
— Ora, professor! Posso ajudar? Aconteceu alguma coisa?
Ao que ele, prontamente e de forma lamuriosa, respondia:
— Hoje é um dia triste, acho que para nós dois.
— Mas, ora, homem! Por quê?
— Não vá me dizer que já esqueceu? Hoje fazem 13 anos que faleceu o seu pai, um dos meus inesquecíveis amigos...
Mudavam os nomes, a data e o local, mas a história era repetida na essência.
Diante de tal situação, o dono da casa se retraía, perdia de imediato a alegria e ficava impressionado. Começava a imaginar que, ele, sendo filho, sequer havia lembrado que aquele dia marcava o aniversário de falecimento do pai. Concluía também que o professor, sim, era um homem altruísta e solidário, qualidades que, infelizmente, naquela altura, o colocavam no papel de filho ingrato.
Passado o desconforto inicial, a conclusão era sempre a mesma: como não votar em um homem que sequer é parente e, mesmo assim, mantém tão viva a memória do seu pai?
Assim, de casa em casa, de aniversário de morte em aniversário de morte, nosso solidário vereador fazia sua bem-sucedida campanha.
Por anos, a fórmula deu certo.