O Cirilo foi uma das figuras mais folclóricas de nossa cidade. Sua grande paixão era o futebol, sendo um torcedor incondicional do Miraguai. Nos anos 80, ele teve uma curiosa carreira como treinador da famosa equipe do “ABC” da Área Indígena.
Naquela época, frequentemente ocorriam conflitos decorrentes de disputas internas entre os indígenas. Em uma dessas situações, um jovem kaingang, que fazia parte da equipe treinada por Cirilo, foi assassinado. O velório do jovem reuniu praticamente toda a comunidade e, é claro, também o Cirilo.
Valdir Severgnin conta que, ao chegar pela manhã ao velório, encontrou o Cirilo andando em círculos, próximo ao caixão, lamentando em voz alta, num lamurioso: – “Non... non... non... que desgraça!”
À tarde, ao retornar para o enterro, Valdir percebeu que Cirilo continuava no mesmo ritual desesperado. Valdir então se aproximou e desabafou: – Cirilo, você me impressiona. Nunca imaginei que tivesse tanto apego à comunidade...
Cirilo respondeu de imediato, enxugando as lágrimas com a manga do abrigo verde do Miraguai, que sempre vestia: – Non, doutor, eu sou azarado mesmo... Não tem jeito. Olha só o infeliz que morreu! Era meu ponteiro direito. Bem que podiam ter matado o ponteiro esquerdo. Na esquerda eu tenho dois reservas, e na direita nenhum. Desse jeito nós vamos perder para o Flamengo de São Pedro no próximo domingo.