Seu Peri nunca levou desaforo pra casa; era do tipo: “pediu, levou!”. Certa vez, o que não era raro, se desentendeu com um funcionário público municipal. O bate-boca acabou esquentando, e, ao se sentir ofendido, Peri não deixou por menos: desfiou um já conhecido rosário de impropérios contra o infeliz: – “Você é a maior nulidade que o sol desta cidade já aqueceu!” e “Você não passa de um guampudo!”. A partir daí, o nível só piorava. Frases que, a bem da verdade, ele dizia mais pelo impacto do que pelo real conteúdo ofensivo.
No entanto, dessa vez a coisa não ficou no bate-boca. A mulher do cidadão ficou sabendo da história e, sentindo-se profundamente ofendida e humilhada com a pública suspeita de sua fidelidade conjugal, entrou com uma ação na Justiça.
Passados alguns meses, Peri foi chamado para depor.
O Dr. Fernando, juiz da comarca, depois da qualificação de praxe, perguntou a Peri: – O que o senhor tem contra esta mulher? – perguntou, apontando para a vítima, que estava à sua direita.
Sem alterar o semblante e com uma cara de surpresa, Peri saiu com esta: – Nada, doutor, por sinal, só ouvi falar bem desta senhora!
– Como assim, seu Peri? Está escrito aqui que o senhor colocou em suspeita o caráter e a conduta dela! – exclamou o juiz.
– Deve haver um engano, doutor! Um grande engano! Não tenho nada contra esta senhora! – insistiu o réu.
– Mas o senhor chamou o marido dela de guampudo!
Seu Peri retomou a posição ofensiva: – Chamei e chamo de novo, doutor! Aquele infeliz não passa de um guampudo sem vergonha! – quase esbravejou na frente do Dr. Fernando, tentando controlar a raiva.
– Porém, contra esta mulher, não tenho absolutamente nada... a não ser, talvez, pena dela ter casado com o infeliz! Guampudo!
O processo, no final, não deu em nada.
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