O Zico era uma figura muito conhecida na nossa cidade. Chamava atenção pelo seu jeito simples e objetivo de se comunicar e por sua característica única de pechinchar. Uma história do nosso folclore urbano relata que, certa vez, precisando fazer uma operação no abdômen, ele procurou um médico para negociar os custos da cirurgia. Ao seu modo, ele entrou em contato com o doutor, relatou o caso e, ao mesmo tempo, pediu um orçamento da operação.
Meio desconcertado, explicando que em uma operação nada é completamente previsível, o médico, diante da insistência, deu um preço:
— Olha, Zico, uma operação dessas custa no mínimo 1.500 reais — disse o médico.
Zico, ao ouvir o valor, pareceu assustado, ou talvez fingiu estar, e partiu para a pechincha, usando seus argumentos:
— Doutor, por favor, me explique: de que tamanho o senhor vai fazer o talho?
Com a cautela de um médico veterano, já conhecendo as características do paciente, o doutor explicou que, no mínimo, teria que fazer uma incisão de uns 15 centímetros, o que era normal numa situação como a apresentada. Depois de explicar, inclusive, o que era uma incisão, Zico retomou o domínio da situação e fez uma contraproposta:
— Doutor, economiza no talho e, em vez de 15, faz um cortezinho de cinco centímetros que eu pago 500 reais — arriscou Zico. Para maior convencimento, completou: — E eu ainda dou um cheque pré-datado, é claro.
Como o médico conhecia Zico e eram amigos de reuniões nas canchas de bocha, decidiu facilitar o preço do procedimento. A operação foi feita e acabou saindo por uns mil reais, pagos com um cheque pré-datado, conforme o proposto.
Aparentemente, o procedimento ocorreu sem intercorrências, dentro do prazo de recuperação programado. No entanto, na data do desconto do cheque, para surpresa do médico, não havia fundos na conta. O doutor foi procurar o nosso amigo Zico:
— Zico, o seu cheque voltou!
— Não se preocupe, doutor, a dorzinha voltou também. Por isso, acho melhor a gente deixar a coisa como está!
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