Nos anos 70, dirigir um carro era, para a minha turma de amigos, uma passagem entre a infância e a maturidade. Aos 16 ou 17 anos, nada era mais eletrizante do que a aventura de percorrer as poucas ruas pavimentadas e a maioria coberta de cascalho, no carro do nosso pai. As oportunidades eram poucas para a maioria de nós, surgiam apenas em datas especiais e, mesmo assim, sempre acompanhados, o que não nos permitia exibir-nos plenamente para as meninas do colégio. Além desse prazer incompleto, havia outro problema: os brigadianos, que pareciam farejar menores de idade conduzindo veículos. Entre eles, o mais temido era o cabo Hero.
Na nossa turma, não havia um único que tivesse experimentado a sensação de liberdade ao volante e que não tivesse sido abordado pelo cabo Hero, sofrendo uma ameaça de multa — que, felizmente, nunca chegava. Era assim nos anos 70. Hoje, deduzo que a onipresença da Brigada se devia ao simples fato de que a cidade era minúscula e nós, pretensiosos, queríamos nos exibir no centro.
Porém, o tempo passou. As décadas foram sopradas para o passado como nuvens, e todos nós crescemos. Agora, só lembramos daquelas aventuras no trânsito quando provocados. E o cabo Hero? Ele se aposentou, continua na cidade, já bem idoso, sentado ora num banco, ora noutro, na praça central. Lá está ele, aposentado, observando em silêncio a cidade que cresceu, bem como o número de veículos, que cresceu ainda mais.
Hoje, olhamos para o velho brigadiano, que desaprovava nossas ousadas aventuras no trânsito, com carinho e admiração. Adultos, muitos de nós com filhos e netos, entendemos que o velho policial, antes de ser um perseguidor, era na verdade um protetor. Ele, que carregava no nome a tradução de "Herói" para o inglês, como nos ensinava Mister "Titier" na escola improvisada no porão da Igreja Matriz, tem, de fato, histórias dignas de um herói de revistas em quadrinhos.
O velho cabo, com problemas de audição, ainda está muito lúcido e, hoje, na véspera dos seus 95 anos, acumula muitas histórias, que são libertadas lentamente por sua memória. Parar e conversar com o cabo Hero é como viajar para o passado da nossa cidade e região. Ele lembra detalhes do ano em que entrou para a Brigada Militar, em 1957, em Santa Maria. Quando jovem, integrou um pelotão para combater uma derrubada de pinheiros na região de Marcelino Ramos. A eficiente força policial prendeu todos os madeireiros, mas quem levou a pior foi a própria força. Os desmatadores eram empregados do filho de uma grande autoridade do Estado. A força, que mexeu com os interesses de poderosos da época, foi dissolvida, e ele foi destacado para compor o patrulhamento da reserva do Turvo. Depois, passou anos como policial em Derrubadas e, em meados dos anos 60, veio para Tenente Portela.
Entre as paixões da sua vida, além da profissão de brigadiano, destacavam-se as rinhas de galos, um costume que preenchia as tardes de domingo nos tempos antigos. Ele afirma que, depois que tal "esporte" foi proibido, há muito deixou de lado essa prática. Hoje, além de passear lentamente pela cidade em que já foi uma autoridade, ele cria pássaros e mantém, em seu coração, acesas as tradições gaúchas e as lembranças heroicas das epopeias do Rio Grande do Sul. Esta simbiose com as tradições do pago faz com que ele lembre, com desmedido e incontido orgulho, que, nos anos 60, no primeiro desfile do Centro de Tradições Sentinela da Fronteira, ocorrido num 7 de setembro, ele era o único pilchado e a cavalo, e desfilou sozinho. Afinal, tinha um bom cavalo, tinha boas pilchas, era policial e, o mais importante, tinha uma paixão que até hoje perdura pelas tradições do Rio Grande.
O tempo diminui as pessoas, mas não ofusca as histórias.
Visto de longe na praça, parece uma estátua de um herói sentado, que navega suavemente num mar de memórias que, nos dias de hoje, já não interessam a mais ninguém.