Meu pai chegou à vila de Tenente Portela exatamente no dia 11 de setembro de 1945. Tinha 14 anos. Guardou a data com precisão porque sempre se lembrava das linhas pintadas a cal, que contrastavam com as ruas poeirentas e serviram de guia para o desfile cívico na primeira festa da igreja católica, realizada no domingo anterior.
Veio com a família, que, porém, alguns meses depois, foi embora em busca de novos rumos. Ele preferiu ficar na vila, assim como Elias, seu irmão mais novo. Os dois adolescentes, um com 12 e outro com 14 anos, saíram à procura de emprego que lhes garantisse o sustento. A primeira atividade de meu pai foi em um Armazém de Secos e Molhados, que também funcionava como moinho, de propriedade dos irmãos Rosa Lopes.
Rapidamente, de guri carregador de sacos, passou ao cargo de moinheiro e, daí, foi um passo para se tornar motorista. Assim, ele pegou a estrada, levando produtos da região em um potente Ford F-6. Mesmo sem idade e sem carta de habilitação, fazia longas viagens, levando produtos da terra e trazendo mercadorias para a loja dos patrões. Foi ganhando confiança e fazendo economias para, mais tarde, ter o seu próprio FNM, um sonho que acalentava desde criança.
No início dos anos 50, encantou-se com as belezas de minha mãe. Ela trabalhava na mesma firma, porém um degrau acima, como se dizia na época; ela era a caixa da empresa. À sua maneira, ele insistiu e persistiu para conquistar o amor da pretendida. Ela havia chegado aqui no fim da década de 40, com um irmão que abriu uma seção de peças e, depois, com um sócio, construiu o posto Esso, o maior da cidade. Dois anos depois, se casaram. Desse amor, nasceram seis filhos, todos meninos, cada um com suas histórias e desafios pela frente. Todos, mesmo morando no interior e em uma época de dificuldades, fizeram curso superior. Hoje, quatro deles ainda moram em Tenente Portela, a cidade escolhida por meu pai, que hoje comemora 69 anos de emancipação, um evento de conquista celebrado por meu pai no ano de 1955. Os filhos, todos homens, alguns aposentados e a maioria na chamada terceira idade, ainda guardam a capacidade de se surpreender quando veem passar na mente, como um filme, as transformações nessas seis décadas. Todos se casaram e tiveram filhos, a terceira geração na cidade... e assim a vida segue...
Ah! Papai e mamãe? Eles não vivem mais entre nós já há alguns anos. Repousam em paz no solo que escolheram para viver e construir seus sonhos. Não duvido que, se pudessem se manifestar, não hesitariam em declarar a missão cumprida.
Esta é apenas mais uma história como tantas outras, mas carregada pelo orgulho do pioneirismo e do amor a este município.
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