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Rodeio crioulo – uma tradição cruel

Por Nilton Kasctin dos Santos

01/02/2022 às 15h19
Por: Jonas Martins Fonte: Jornal Província
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Foto: Pixabay/freitascv
Foto: Pixabay/freitascv

Você já pensou na hipótese de se divertir com o sofrimento do outro? É claro que não. Mas se você curte rodeio crioulo é exatamente isso que acontece. Você se diverte enquanto os animais são literalmente torturados. Você grita de alegria, aplaude e ri, enquanto bezerros, vacas e bois sofrem ansiedade, medo, pânico, diarreia, dor, solidão, perseguição, sede, fome, calor, cansaço, estresse em razão do barulho de gritos, palmas e música.

Apontei algumas formas de sofrimento dos animais. Mas a lista é muito maior, e a tortura começa bem antes do dia das provas. Lógico, o competidor quer ganhar prêmio, por isso precisa treinar muito. Ouvi de um peão que chega a treinar por dois meses para um rodeio. - Treino com vaca mecânica também, mas o que vale mesmo é no animal de verdade -, referia orgulhoso por já ter levantado importantes prêmios. Explicou que separa um grupo de bovinos “mais assustados” (traumatizados) e só para de laçar quando o último não tem mais forças para correr. Por vários dias.

Nos treinos, esses peões chegam a laçar uma centena de vezes por dia. Para quem não sabe, laçar para treinar inclui perseguir o animal com toda a velocidade de um cavalo treinado. Quando o peão acerta a laçada nos chifres ou pescoço, o animal perseguido é puxado de soco, vindo quase sempre a cair de maneira violenta. Quando se trata de um bezerro, mais leve, é também arrastado pelo cavalo. E não pense que nos dias do treino os animais são alimentados. Mesmo porque não comem nem bebem em razão do extremo nervosismo.

Os animais levados para os rodeios são primeiro retirados de seus locais onde comem, dormem e convivem com semelhantes. E animais precisam de convivência social, exatamente como nós com nossas famílias e amigos. Bovinos são gregários, precisam viver em manada, em grupo organizado, com regras e liderança naturais.

Imagina a crueza e covardia de um ser humano que retira esse ser vivo de seu grupo social onde mora, para levá-lo à força a um lugar estranho, deixá-lo fechado com outros animais estranhos também traumatizados por sofrimentos pretéritos (os “mais assustados”, como disse o peão que mencionei). Privá-lo do sono por vários dias (sim, o medo impede o sono), e mantê-los o tempo todo em pânico. Para diversão.

No local onde ocorre o rodeio, para piorar a situação de sofrimento dos animais ali aprisionados, realizam-se outros eventos paralelos, como shows musicais, discursos de autoridades, sorteios de prêmios, programas radiofônicos ao vivo, todos com volume de som insuportável para os animais já amedrontados. A iluminação também é excessiva e por isso prejudicial à saúde desses animais, que, sem dormir, começam a apresentar sintomas de desequilíbrio neurológico como diarreia e tremores.

Já desorientados, em pânico e desesperados, agora esses bois ou bezerros são açoitados e cutucados violentamente com paus ou instrumento de choque dentro do brete por alguém que aos gritos abre a porta do cubículo, e então o bichinho salta desatinado, e corre com toda a força que ainda lhe resta. Tentando em vão escapar do sofrimento atroz e injusto. Mas é exatamente disso que os peões precisam para arrancar efusivos aplausos da claque.

Para uma dezena de pessoas, todo esse sofrimento infligido a um animal semelhante nosso é exclusivamente por dinheiro. Dinheiro dos ingressos, da cerveja, dos shows e dos prêmios. Mas para 99% dos frequentadores, é por pura diversão.

Para quem curte rodeio: qual o teu grupo? Da diversão ou do lucro?

É preciso lembrar que os animais são exatamente como nós, no aspecto biológico. No corpo deles são encontradas as mesmas substâncias químicas que mantêm a vida humana, pois comemos e bebemos dos mesmos nutrientes vegetais e minerais. Nos aspectos neurológico, psicológico e intelectual também somos todos semelhantes, humanos e não humanos. Exatamente como nós, os animais sentem dor, tristeza, saudade, medo, solidão, fome, sede, sono e estresse. Separados e aprisionados para a diversão humana dos rodeios, sentem tudo isso ao mesmo tempo.

A cientista americana Temple Grandin comprovou que o cérebro dos animais está organizado de forma semelhante ao cérebro das pessoas autistas. Dá pra imaginar então o tamanho do sofrimento a que são submetidos os animais em rodeios.

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Nilton Kasctin
Sobre o blog/coluna
Promotor de Justiça, professor universitário e defensor do meio ambiente e do direito e bem estar do ser humano. Nilton Kasctin dos Santos escreve quinzenalmente no Jornal Província
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