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“Em marcha ré para a missa”

O dia em que o jipe venceu, mas o pescoço perdeu.)

Por: Jalmo Fornari
15/10/2025 às 15h06
“Em marcha ré para a missa”

O pai do Amauri morava entre o quilômetro oito e o doze, naqueles distantes anos de 1950. Responsável por uma tropa de filhos, era um homem católico, trabalhador e, acima de tudo, econômico. Graças a essa economia rigorosa, conseguiu realizar um sonho: comprar o primeiro veículo da família — algo raro na região, naqueles tempos.

Era um jipe Land Rover 1949, que por anos servira ao padre da paróquia do povoado.

Feito o negócio, o pai do Amauri recebeu algumas lições básicas — bem básicas mesmo — sobre como conduzir o veículo. Orgulhoso e garboso, retornou para sua propriedade no interior.

Naquela época, as estradas ainda eram estreitas, feitas para cavalos e carroças. Os automóveis recém começavam a chegar à região.

Ao se aproximar do portão da casa, lá estavam a mulher, a filhada, as crianças e alguns vizinhos, todos em clima de festa, aguardando a chegada triunfal do novo proprietário motorizado. Quando o jipe cruzou o portão, foi recebido com salvas de palmas e gritos de admiração. Mas o homem não parou. Seguiu direto até a sombra de uma enorme figueira, onde estacionou.

Atrás vinham os filhos, os cachorros (assustados com a novidade) e os vizinhos curiosos. O homem desceu do carro, deu uma volta em torno dele, com o peito estufado, e anunciou:

— Acalmem-se, acalmem-se! Domingo vamos levantar cedo e vamos de jipe pra missa, lá em Portela!

A expectativa tomou conta da casa até o domingo.

Na hora marcada, o pai do Amauri sentou-se ao volante. A esposa e a criançada se ajeitaram como puderam nos bancos e nas laterais. Tudo pronto, deu a partida. Só que, como as instruções que recebera eram bastante rudimentares, ele engatou sem querer a marcha ré.

O jipe começou a andar... para trás.

Como ele não sabia como fazer a manobra de inversão, e não queria “inventar moda”, resolveu seguir assim mesmo:
foi até Portela em marcha ré.

E assim chegou à cidade — de costas, mas inteiro.

Depois da missa, o padre Albino — antigo dono do jipe — se aproximou curioso:

— E aí, como é que tá te ajeitando com o carro novo?

O pai do Amauri pensou um pouco e respondeu:

— Prá ser sincero, padre… pra ir embora foi um colosso! Tirando os buracos da estrada, foi uma beleza.
Mas pra vir... foi um sufoco. Me deu um torcicolo danado!

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Jalmo Fornari
Jalmo Fornari
Jalmo Fornari é diretor-proprietário do Sistema Província de Comunicação. Jornalista já atuou nos principais veículo de comunicação do Rio Grande do Sul, como as rádios Gaúcha e Guaíba. Também é advogado com pós graduação em direito previdenciário. Como político foi vereador em Tenente Portela por diversos mandatos, tendo ocupado por diversos momentos o cargo de prefeito. Nesta coluna você acompanha crônicas, textos e memórias.
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