
As pequenas povoações que surgiam na região, no século passado, tinham duas construções obrigatórias: a igreja — geralmente católica, já que os imigrantes, na maioria italianos, traziam essa fé consigo — e, nas proximidades, um salão de festas. Às vezes, o salão até pertencia à própria comunidade.
Esses salões eram o ponto de encontro dos colonos que iniciavam a colonização do noroeste gaúcho. Não faltava uma cancha de bocha ao lado, e, nas tardes de domingo, depois de um almoço comunitário, o espaço abrigava duplas de jogadores de cartas e, entre os mais tradicionais, duelos acalorados de mora.
Mas o ponto alto mesmo não eram as bochas nem o carteado. Eram os bailes — realizados com razoável frequência aos sábados à noite ou nas vésperas de feriado.
Como os salões serviam para atividades rotineiras da comunidade, havia geralmente apenas uma “patente” nos fundos do prédio — o banheiro. O problema era que, durante os bailes, o público crescia muito: vinham pessoas de todas as comunidades vizinhas. Assim, os organizadores da festa precisavam providenciar mais “acomodações”.
E aí entrava a criatividade do interior: latrinas móveis.
O procedimento era padrão. Havia sempre uma ou duas “casinhas” de reserva, com estrutura de um metro por um, equipadas com um banco furado de madeira. Na véspera do baile, bastava cavar um buraco no gramado e posicionar a estrutura sobre ele. Ao lado, uma touceira de espigas de milho descascadas — papel higiênico do mato, tradicional e eficiente.
Até aqui, tudo dentro do esperado. Mas é nesse improviso funcional que morava a malandragem da piazada.
Os mais novos, que ainda não podiam entrar no baile, se reuniam em grupos de quatro a seis piás. Lá pela uma ou duas da madrugada, quando o movimento do salão estava no auge e ninguém prestava atenção do lado de fora, eles armavam o golpe: deslocavam discretamente uma das casinhas da sua base original — apenas quatro ou cinco metros já bastavam.
No breu da madrugada (já que energia elétrica era luxo de cidade grande), algum infeliz, tomado por urgência e desavisado da armadilha, acabava caindo direto no buraco — que, convenhamos, já vinha bem frequentado desde o início da festa.
O coitado saía de lá com a roupa boa arruinada e a honra comprometida, incapaz de voltar ao baile ou até mesmo de entrar no próprio carro. Enquanto isso, atrás das árvores, a piazada tentava conter o riso, vendo apenas vultos desesperados abanando os braços e xingando no escuro.
Era uma das muitas "brincadeiras" que se multiplicavam pelos bailes do interior — onde o romantismo e a boemia dividiam espaço com a criatividade das travessuras noturnas.