
Eram tempos em que os encontros e os inícios de namoro nasciam nos bailes das comunidades. Casais se formavam pela proximidade entre as famílias, pelo empurrão dos amigos e, às vezes, por obra do destino — ou da teimosia.
Foi assim com o Mauri, mais conhecido como Dega. Tinha uns 20 anos quando as irmãs e algumas amigas resolveram “ajeitar” um encontro entre ele e a Maria de Fátima, moça bonita, de apenas 16 anos na época. A ideia era apresentá-los durante um baile no famoso salão do Km 12 — pertinho da casa do Mauri, que morava no Km 8, sentido Três Passos.
Foram dias de ansiedade. O rapaz só falava nisso. Uma semana antes do baile, aproveitando que os pais iam à cidade fazer compras dos mantimentos da casa, ele fez um pedido especial:
— Mãe! Dizem que lá no Turco, em frente à farmácia do Sperotto, tem um perfume chamado “Tabu”. É meio caro, mas dizem que é coisa fina!
A mãe, querendo agradar o filho e talvez sonhando com o futuro casamento, trouxe o tal perfume da cidade.
No dia do baile, logo após o almoço, o Mauri tomou o banho mais demorado da vida. Depois, se perfumou com capricho. E como achou que uma dose era pouco, mandou mais umas borrifadas na gola da camisa, nas axilas e até atrás da orelha. “Agora sim!”, pensou.
Chegando ao salão do Km 12, todo elegante e sorridente, avistou Maria de Fátima. Ela estava acompanhada do irmão Ernesto e de duas amigas. O Mauri ajeitou o cabelo, estufou o peito e foi se aproximando com seu melhor sorriso.
Quando estava a uns três metros do grupo, o destino — ou a feijoada do almoço — resolveu agir. Ernesto, o irmão da moça, soltou uma daquelas flatulências silenciosas, mas capazes de derrubar um canteiro de margaridas. A primeira a sentir foi a própria irmã:
— Meu Deus, que cheiro é esse?! — exclamou, cobrindo o nariz.
O pobre Mauri, que ainda não havia sentido o “torpedo” do futuro ex-cunhado, achou que estavam comentando seu perfume. Orgulhoso, bateu no peito e disse, com voz firme:
— O cheiro é do Degas aqui! Caprichei!
A moça apenas exclamou:
—Meu Deus, você tá cag... ! Vá para casa se trocar!
Tapou o nariz com as duas mãos e saiu ligeira para o fundo do salão. Nunca mais se encontraram. E o Ernesto… nunca contou a verdade.