Um documentário de televisão me fez reviver o drama de 33 mineiros chilenos retidos em uma mina a um quilômetro de profundidade. Confesso que me esforcei para não me imaginar no lugar daqueles homens enclausurados nas entranhas da terra sem qualquer perspectiva de saída.
O maior problema deles não era a ausência de luz, de alimento, de água potável ou outros elementos indispensáveis para a vida biológica. Nem o bloqueio da saída assustou aqueles mineiros acostumados a passar meses entre as rochas subterrâneas; o que os aterrorizou de fato, nos primeiros dias, foi a possibilidade de não haver alguém do lado de fora fazendo alguma coisa por eles. Refleti então sobre a relação de dependência recíproca que todas as pessoas desenvolvem como condição para viver em sociedade.
Todos os animais, assim que nascem, já mostram alguma capacidade de sobrevivência. Alguns alimentam-se e caminham com menos de uma hora de vida. Mas uma criança quando nasce sequer consegue encontrar o seio da mãe a menos de um palmo da boca. Não caminha, não fala, não come, não distingue sabor, imagem ou som, não é capaz de coordenar um só movimento físico, enfim, é tão frágil que não sobrevive sem a interferência direta de outras pessoas. E por muito tempo. Leva anos até aprender a controlar os esfíncteres (músculos responsáveis pela retenção e liberação do xixi e cocô). Se sofre trauma psicológico em algum momento de seu desenvolvimento, pode facilmente perder o controle básico do próprio corpo. Por isso os psicólogos perguntam se o paciente faz xixi na cama. Um trauma de relacionamento com os outros ou com o meio durante a infância pode deixar a pessoa deficiente para o resto da vida.
Mas então por que logo o ser mais frágil ao nascer torna-se depois o mais forte e inteligente de todos os animais? Por que depois que cresce é capaz de dominar os animais que nasceram mais fortes e capazes? E por que esse animal que agora domina tudo continua dependente de tudo e de todos?
Nenhum outro animal, nenhuma planta ou qualquer elemento natural depende do homem. Chega a ser intrigante, mas nada que pertença à Natureza depende do homem para existir. Ao contrário, se não existisse o homem, a Natureza estaria mais bonita, saudável, exuberante. Mas o homem depende do seu irmão e de todos os demais seres para sobreviver. Cientificamente, isso é inexplicável. Todavia, para quem crê na história da Criação, é de fácil compreensão.
Observe-se que só depois de ter criado o Universo, com todas as suas maravilhas, é que Deus criou o homem. Conclui-se que teria mesmo de ser assim, já que a criatura (homem) necessitava de um habitat. Mas relacionemos apenas duas razões para o Criador fazer com que o homem dependesse umbilicalmente da Natureza e do próprio homem: 1ª) fazer do homem um administrador sábio e responsável; 2ª) não deixar o homem esquecer que é dependente de Deus, ao ver-se dependente de toda a obra de Suas mãos.
Assim o homem foi compelido a administrar o meio ambiente como se fosse sua casa, sua própria vida, já que é exclusivamente dos seres animais, vegetais e minerais que extrai tudo o que lhe permite viver. Deus queria do homem um ser organizado para administrar a Terra com sabedoria e conforme as regras divinas. E não deixou outra alternativa. Ou administra a Criação com responsabilidade e respeito absoluto às leis da Natureza, ou desaparece do cosmos.
O homem é necessariamente social. Se não estiver inserido em um grupo, não sobrevive. Por isso, assim como depende da Natureza, depende também do seu irmão. E não apenas em situações como a dos mineiros chilenos, mas em todas as circunstâncias da vida. Quando uma pessoa se isola, é comum ouvirmos que está deprimida ou louca, pois a concepção de normalidade do comportamento humano está ligada a uma vida social ativa que compreende uma relação de inegável interdependência com tudo e com todos, a revelar nossa dependência absoluta de Deus.
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