A Polícia Civil do Rio Grande do Sul deflagrou, nesta quinta-feira (30), uma operação contra uma organização criminosa especializada no chamado “golpe do namoro”. A ofensiva cumpriu seis mandados de prisão temporária nas cidades de Recife e Olinda, em Pernambuco.
De acordo com a delegada Luciane Bertoletti, da 3ª Delegacia de Polícia de Canoas, o esquema era comandado por um criminoso que já estava preso por roubo. Mesmo de dentro da cadeia, ele coordenava a atuação do grupo, que aplicava golpes financeiros em diversas vítimas. Esse grupo criminosos agia em todo o Brasil e também no estado do Rio Grande do Sul, fazendo diversas vítimas.
Entre os alvos da operação está um homem apontado como contador da quadrilha, responsável por administrar as transações financeiras. Somente ele movimentou, em um período de um mês, cerca de R$ 100 mil via Pix em uma única conta bancária.
Além dele, quatro mulheres foram presas. Elas recebiam os valores enviados pelas vítimas e davam continuidade ao esquema fraudulento. Segundo as investigações, o mesmo grupo também atuava aplicando golpes em outros estados do país.
O crime consiste em enganar vítimas por meio de falsas relações amorosas, geralmente iniciadas em redes sociais ou aplicativos de relacionamento. Os golpistas criam perfis falsos e, após conquistarem a confiança da vítima, pedem dinheiro sob diferentes pretextos, como emergências médicas, passagens para visitas ou investimentos em supostos negócios.
Com a prisão dos envolvidos, a Polícia Civil busca aprofundar as investigações para identificar outras possíveis vítimas e desarticular por completo a atuação do grupo.
Relato de uma das vítimas:
Em abril do ano passado, um morador de Canoas, de 28 anos, iniciou uma conversa com uma jovem pela internet. Depois do bate-papo pelo Facebook, ela pediu o telefone dele para seguirem pelo WhatsApp. O rapaz ainda não sabia, mas estava sendo envolvido na trama do chamado golpe do namoro. Após uma série de ameaças de morte e extorsões, ele enviou R$ 1,1 mil aos criminosos, com receio de que pudesse ser alvo de um crime ainda mais grave.
Em seu telefone, ele recebeu uma série de prints com seu perfil no Facebook e com as conversas trocadas com a jovem. Do outro lado da linha, um homem se identificava como companheiro de Débora — o nome usado pelos golpistas para identificar o perfil falso. O criminoso demonstrava ter informações sobre a rotina dele. O rapaz fez dois pagamentos, mas as ameaças continuaram.
“Já tive que fazer o impossível para conseguir os 1.000”, escreveu o rapaz, alegando que não tinha mais de onde tirar outros valores. Diante disso, o criminoso chegou a orientar que ele procurasse um agiota e pegasse dinheiro emprestado. “Não tenho contato disso”, respondeu a vítima. O golpista então mandou que ele procurasse algum conhecido. “É tua vida, mano. Corre atrás”, escreveu o bandido.
"Estava me sentindo sufocado, como se fosse a beira da morte. Tinha que conseguir dinheiro, urgente. É uma situação horrível o que eu passei. Foi desesperador. Só de lembrar. Não quero passar por isso nunca mais", disse o jovem.
O criminoso alegava pertencer a uma facção criminosa e, por isso, teria influência para assassinar o jovem, mesmo aqui no RS. Numa das imagens enviadas, aparecia a foto da vítima, com a mensagem “decretada a morte pelo PCC”, fazendo referência ao Primeiro Comando da Capital, o maior grupo criminoso brasileiro.
Durante as conversas, a vítima chegou a receber um vídeo com imagens de uma casa destruída e sangue no chão. Os criminosos alegavam que aquilo era o que o marido da jovem havia feito com ela após descobrir as conversas. Para pressioná-la, encaminharam também outras imagens violentas.
— Após as ameaças com o vídeo da casa, falaram que se não mandasse dinheiro no máximo até o próximo dia iam vir me matar. E mandaram uma foto segurando uma cabeça decapitada. E dizendo que se eu não queria ter o mesmo destino era para eu conseguir o dinheiro até o dia seguinte. Na hora, eu entrei em desespero. Parece que a alma saiu do corpo e voltou. Fiquei em estado de choque. Não imaginava que uma simples conversa no Facebook ia resultar nisso, perda de dinheiro, pressão psicológica. Foi um terror realmente — narra o rapaz.
Com medo, o rapaz decidiu trocar de telefone, para não receber mais as ameaças, a chegou a mudar de moradia — já que os criminosos alegavam saber onde ele residia. O caso foi registrado na Polícia Civil de Canoas e passou a ser investigado.
— Isso foi um episódio bem traumatizante. Não conversei mais com nenhuma mulher pela internet. Espero que eles paguem. Que encontrem, que eles paguem pelo que estão fazendo. Certamente, não fui só eu que passei por esse golpe — diz.